O FRADE ENCANTADO E OS TESOUROS SECRETOS DA SERRA DA BOCAINA
A Serra da Bocaina fica na divisa dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, região do Vale do Rio Paraíba.
Além de guardar uma rica biodiversidade da Mata Atlântica e registros de alguns capítulos importantes da história do Brasil, é comumente considerada um lugar de encantamento e magia.
A região fez parte de diversos ciclos históricos de ocupação do território brasileiro no processo da colonização, que ali deixaram suas marcas.
A região fez parte de diversos ciclos históricos de ocupação do território brasileiro no processo da colonização, que ali deixaram suas marcas.
Da presença ancestral indígena ao ciclo do ouro, o tempo do tropeirismo, aos ciclos da cana de açúcar e do café - período escravagista e da conformação de grandes fazendas na região.
Até o mais recente ciclo da proteção ambiental e do turismo, com a instituição de diversas áreas protegidas.
Nesse meio tempo, muita coisa mudou.
E "muitos se perderam no caminho"!
Mas em meio à exuberância da paisagem, persistiram alguns de seus povos e comunidades tradicionais - como indígenas Guarani, quilombolas, caipiras e caiçaras.
Que representam a memória viva e pulsante desse território.
Entre as cidades de Cunha e Bananal, em meio a um cenário magnífico, avista-se na paisagem a imponente Pedra do Frade.
Entre as cidades de Cunha e Bananal, em meio a um cenário magnífico, avista-se na paisagem a imponente Pedra do Frade.
Um dos pontos mais altos da região, a vista deslumbrante do alto dos seus 1.574 metros de altitude (incluindo a parte litorânea da Baía de Angra dos Reis), faz com que essa formação seja procurada na atualidade para trilhas e caminhadas.
A forma da pedra que conforma seu cume lembra um homem vestido com uma túnica.
E, no crepúsculo, quando os raios do sol batem em cheio sobre ela, a umidade faz com que adquira tons de dourado, suscitando a imaginação humana.
Tesouros escondidos, seres encantados observáveis apenas por aqueles puros de coração e a figura de um frade revolucionário que aparecia no alto da montanha no final de tarde e cujo espírito ainda guarda a montanha são alguns dos mistérios e lendas associados a este sítio.
“Histórias dos antigos” contadas pelos bocaineiros - moradores tradicionais da Serra da Bocaina, herdeiros da cultura caipira e tropeira que se desenvolveu ao longo do tempo.
Conta-se que na base do rochedo se formava uma pequena piscina natural, de águas cristalinas. Pela manhã, quando os primeiros raios do sol projetavam seus feixes sobre o espelho d’água, patinhos dourados apareciam para ali nadar, desaparecendo quando a sombra do rochedo cobria a lagoa [1].
Mas, segundo as narrativas, nem todos estavam aptos a vê-los, apenas as crianças e os adultos de coração puro.
Mas, segundo as narrativas, nem todos estavam aptos a vê-los, apenas as crianças e os adultos de coração puro.
A presença desses seres encantados seriam a prova da existência de um tesouro antigo enterrado no local.
Diz-se que lá costumava aparecer também, todos os dias, quando o sol estava no seu crepúsculo, a figura de um frade, visto apenas de longe.
“Então ele surgia, em pé, brilhante como uma estátua de ouro, sobre a grande penha que se posta no alto da montanha” [1].
Aparecia somente nessa hora, segundo os relatos locais, no exato momento em que a Rádio Aparecida - a única emissora que pega naquela parte das montanhas -, começava a transmitir a Ave Maria.
“Era como se o frade saísse da sua solitária cela na montanha para acompanhar a reza” [1].
Segundo algumas versões da história, o tal frade teria tido um mosteiro na região e sido cúmplice de contrabandistas de ouro sonegado ao fisco colonial.
Conta-se que ele também escondia o metal em sua propriedade, visando financiar uma futura revolução libertadora.
Ladrões de ouro teriam matado o frade e enterrado seu corpo em local incerto. Tal tesouro, no entanto, nunca foi encontrado.
Ladrões de ouro teriam matado o frade e enterrado seu corpo em local incerto. Tal tesouro, no entanto, nunca foi encontrado.
Assim, tanto o ouro escondido quanto o corpo do frade estariam em algum lugar secreto na chamada Pedra do Frade.
Encantados, o ouro teria se transformado nos patinhos que aparecem nadando na lagoa na base do rochedo ao nascer do sol. E o corpo do tal frade, no fantasma que surge no cume da montanha, ao pôr do sol, como a guardar o tesouro pelo qual ele fora sacrificado, protegendo o local da presença de saqueadores.
Essa é uma das muitas histórias que perpassam o imaginário popular na Serra da Bocaina.
Conjugar a proteção ambiental das múltiplas paisagens de alta complexidade natural e diversidade biológica dessa região com a presença das populações tradicionais no território já foi motivo de muita polêmica e conflitos.
Historicamente invisibilizados e desconsiderados, apenas nos últimos anos esses povos e comunidades começaram a ser reconhecidos e valorizados nas políticas públicas.
O recente e inédito título concedido à região de Patrimônio Mundial da Humanidade (pela UNESCO, em julho de 2019), na categoria de sítio misto [2], reforça a necessidade de estreitar esse diálogo.
“Por isso, diziam os caboclos, todos os valentes que ousavam se aventurar por aquelas bandas e procurar o tal tesouro, jamais voltavam” [1].
Para os céticos, tudo não passa de superstições.
Mas para aqueles que ouviram essas histórias narradas e protagonizadas por seus antepassados, elas são reais e fazem parte da memória viva da região.
A historiografia oficial registra que em meados do século XVIII as autoridades portuguesas proibiram a fundação e a existência de mosterios nos chamados territórios das Minas Gerais, sob a alegação de que frades facilitavam o contrabando do ouro.
E também que houveram tentativas de garimpo na Pedra do Frade, por volta dos anos quarenta, sendo os sinais dessa atividade ainda visíveis na montanha.
Essa é uma das muitas histórias que perpassam o imaginário popular na Serra da Bocaina.
Conjugar a proteção ambiental das múltiplas paisagens de alta complexidade natural e diversidade biológica dessa região com a presença das populações tradicionais no território já foi motivo de muita polêmica e conflitos.
Historicamente invisibilizados e desconsiderados, apenas nos últimos anos esses povos e comunidades começaram a ser reconhecidos e valorizados nas políticas públicas.
O recente e inédito título concedido à região de Patrimônio Mundial da Humanidade (pela UNESCO, em julho de 2019), na categoria de sítio misto [2], reforça a necessidade de estreitar esse diálogo.
Uma vez que o seu valor universal excepcional é expresso em dois critérios principais - conter hábitats naturais importantes e significativos para a conservação da diversidade biológica e ser um excelente exemplo de interação humana com o meio ambiente.
Está lançado, pois, o desafio!
Que as belezas, os cantos e os encantos da Serra da Bocaina possam ser reconhecidos, fortalecendo os vínculos de pertencimento das populações humanas desse território.
Está lançado, pois, o desafio!
Que as belezas, os cantos e os encantos da Serra da Bocaina possam ser reconhecidos, fortalecendo os vínculos de pertencimento das populações humanas desse território.
Desatando os nós e reforçando os laços entre cultura e natureza!
Obrigada
Érika Fernandes Pinto - 11/09/2019
[1] Fontes: Lenda narrada por João Analtalino em: http://www.joaoanatalino.recantodasletras.com.br/visualizar.php?idt=3390634. Ver também Rogers, 1986 - Descobrindo a Alquimia. Histórias de Assombração II- A Pedra do Frade.
[2] https://nacoesunidas.org/paraty-se-torna-patrimonio-mundial-da-unesco-por-sua-cultura-e-natureza/.
[2] https://nacoesunidas.org/paraty-se-torna-patrimonio-mundial-da-unesco-por-sua-cultura-e-natureza/.
Maravilha!!! Texto cativante e ótimo para se ler! Bonito! Estória e história muito bem contadas!
ResponderExcluirObrigada! Vem muito mais por aí...
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