O GIGANTE ADORMECIDO NAS MONTANHAS SAGRADAS DO RIO DE JANEIRO




Conta-se que, no início dos tempos, na parte sul das Américas, habitava um gigante. 
Um dos poucos que ainda andava sobre o planeta, era feito de rochas, terras e matas. Pássaros e outros animais habitavam seu corpo e rios límpidos de águas cristalinas corriam em suas veias. 
“Gigante pela própria natureza”, ele seguia sua vontade, andando por aí, caminhando com passadas largas que formavam vales e aplainavam planícies férteis e cheias de vida, que ajudaram a formar uma das florestas mais exuberante e megadiversa do planeta [1]. 
Um dia, no entanto, o gigante se inquietou com a sua singularidade e entrou em um tipo de "crise existencial", se questionando sobre o que o fez ser tão grande. 
Se dirigiu então ao leste e ali onde as águas quentes do Oceano Atlântico tocam a terra gentilmente e a luz do sol é abundante, se acomodou. 
“Deitado eternamente nesse berço esplêndido, ao som do mar e à luz de um céu profundo”, adormeceu, imaginando respostas às suas apreensões. 
Um gigante, como vocês podem imaginar, não dorme por horas, e sim por eras. 
E assim o nosso protagonista dormiu até se tornar apenas uma lenda remota. 
Imerso em seu sono profundo, não se deu conta do que estava sendo feito pelos seres humanos ao seu redor - os vales virando cidades, as matas outrora exuberantes sendo devastadas e os rios de águas límpidas sucumbindo à poluição... 
Essa história tem por cenário não um local longínquo do planeta, mas uma das paisagens mais conhecidas do Brasil - o complexo de montanhas que emoldura a Baía de Guanabara e a cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. 
Um contorno que perfaz cerca de 21 km de comprimento, abrangendo sete bairros litorâneos: Barra da Tijuca, São Conrado, Leblon, Ipanema, Copacabana, Botafogo e Urca [6].

(Autoria não identificada)
O perfil do “gigante de pedra” ou “gigante adormecido”, como é conhecido, pode ser visto na íntegra apenas do mar. 
Da cabeça, na Pedra da Gáveacom seu cocar na vizinha Pedra Bonita, o corpo do gigante segue acompanhando o Morro Dois Irmãos, o Corcovado e a Lagoa Rodrigo de Freitas conformando um pescoço, busto, membro superior, mãos cruzadas sobre o peito, uma longa barriga, um órgão sexual desproporcionalmente grande e membros inferiores finos até chegar aos seus pés apontados para cima, no Pão de Açúcar [5].

Cada formação natural do corpo do gigante tem suas próprias lendas e histórias que conformam uma verdadeira “mitologia carioca”, digna das mais conhecidas do mundo, como a grega e a romana. 
O que levou Leonardo Leite no título do seu livro publicado em 2016, a questionar se “não seriam os deuses cariocas?” - parafraseando a obra clássica de Erich von Däniken “Eram os Deuses Astronautas?”.
Essas ideias não são recentes e - do poema de Gonçalves Dias intitulado “Gigante de Pedra”, de 1851 a diversas iconografias -, não são poucas as obras clássicas que retrataram o gigante adormecido da Guanabara. 
Como um painel de 4 por 2 metros que retrata a paisagem do Rio de Janeiro, do pintor alemão Emil Bauch, executada, segundo dizem,"a vôo de pássaro". 
Concluída em 1874 e oferecida a Dom Pedro II, essa obra ainda causa estranheza por ter sido pintada a partir de uma perspectiva visível apenas “dos ares”, em uma época em que não existiam locais tão altos na cidade nem aviões [3]. 

Eduardo Chaves foi um dos principais pesquisadores a enumerar uma grande quantidade de estranhezas ligadas ao complexo de montanhas do Rio de Janeiro. 
E um dos primeiros a ousar desvendar os mistérios do Gigante Adormecido!
Chamou atenção para o fato de que no Brasil podem estar escondidos os vestígios de uma civilização avançadíssima. Segredos guardados em um monumento arqueológico de fazer inveja aos mais famosos do planeta - a grande esfinge da Pedra da Gávea (estrela principal de desse outro texto AQUI do blog)! 
Baseado na obra Timeu e Crítias de Platão, esse pesquisador defende que os Atlantes foram os responsáveis pela obra, teoria descrita no seu livro Mensageiro dos Deuses [3, 4].
Já para a pesquisadora Vera Filizzola, em uma interpretação baseada na obra de Maurice Cottrell - que descobriu o livro sagrado dos Maias (Popol Vuh) codificado na Tampa de Palenque, no México - a esfinge seria obra de super seres da antiga civilização Maia [3].
Uma outra leitura, associando a formação à civilização egípcia, foi defendida pela figura ilustre do jornalista e político Carlos Lacerda, que governou o Estado da Guanabara de 1960 a 1965. 
Conta-se que ele foi até a Ilha Rasa - o local mais propício para se obter a visão integral do Gigante Adormecido - afirmando que a palavra rasa que denomina a ilha (que de rasa não tem nada) significa "de onde se vê Rá" – o Deus Sol Egípcio, que estaria ali representando [1].
Essa paisagem foi mostrada no filme Roberto Carlos e o Diamante Cor de Rosa, como mencionado no texto do blog sobre a Pedra da Gávea. A imagem que aparece nas cenas como sendo o Gigante de Pedra, no entanto, não corresponde exatamente à real. 
Conta-se que produção do filme fez uma montagem de diferentes ângulos dos morros cariocas com o objetivo de recriar o contorno do ser adormecido, castrando-o!!! 
A razão de tal feito seria uma demanda do próprio Roberto Carlos, em respeito à santidade do Cristo Redentor, instalado no Morro do Corcovado que, do alto dos seus 710 metros, representa o imponente falo do gigante [5]. 
(Autoria não identificada)
Os estudiosos da geografia sagrada defendem que a Baía de Guanabara e as montanhas que a rodeiam conformam uma área ímpar de recepção energética no planeta, que de lá é distribuída para o restante do território. 
Por isso, ainda que a capital administrativa do país tenha sido transferida para Brasília, o Rio continuaria sendo a sua “capital espiritual”. 
Apenas histórias de realismo fantástico ou indícios de uma obra de arte ciclópica esculpida em uma cordilheira à beira mar no Brasil? A polêmica persiste.
Em 2016 a região que envolve o gigante adormecido foi declarada Patrimônio Mundial da Humanidade, reconhecida pela UNESCO como a primeira paisagem cultural urbana. 
Suas florestas remanescentes estão em grande parte inseridas em unidades de conservação, como o Parque Nacional da Tijuca. 
Com isso, pode ser que se garanta, como cantado no Hino Nacional Brasileiro, que “os nossos campos continuem tendo flores, os nossos bosques tendo vida e, nossas vidas, mais amores”. 
A lenda do gigante adormecido do Rio de Janeiro se popularizou com uma propaganda exibida em 2001, da Jhonnie Walkers, em que o grandioso  ser adormecido desperta do seu sono [2]. 
Como mostrado na animação, reza a profecia que um dia o gigante de pedra acordará novamente...
Trazendo as respostas para as apreensões que o fizeram adormecer. Com clareza sobre quem é e convicto da sua missão, diz-se que ele se levantará e andará decidido. 
Consciente de que o que o faz um gigante não é seu tamanho, mas sim a firmeza dos passos que dá em direção ao seu verdadeiro destino!
Enquanto brasileiros somos, por vezes, muito críticos e até maldosos com o nosso país e o nosso povo, nos desvalorizando e ufanando características inferiores. 
Em determinados momentos da história da nossa nação, sucumbimos ao medo, às dúvidas, à raiva e até ao desespero. 
Como a história do Gigante de Pedra nos lembra, no entanto, ninguém nos dará, enquanto povo, um valor e um respeito que nós não nos dermos primeiro! 
Os desafios que se apresentam na atualidade são enormes. 
Podemos escolher nos encolher diante deles. Ou nos erguer enquanto nação, para enfrentá-los corajosamente, como um gigante. 
Esse é um momento que nos pede união, integração e força de caráter para trilhar um caminho de crescimento com responsabilidade. 
Perseverar na senda da verdade, das atitudes conscienciosa e dos princípios adequados não é fácil. 
Mas acredito que o povo brasileiro (do qual sou orgulhosamente parte), também conhecido por sua alegria e solidariedade, não fugirá à essa luta. 
E que o teu futuro, terra adorada, um dia, espelhe essa grandeza!

Keep Walking Brasil...


Com carinho, à minha pátria amada

Érika Fernandes Pinto 

Belém/PA, 05/11/2019


Fontes e Referências:
 [2] Disponível em: https://www.youtube.com/watch?time_continue=12&v=U_AlzZazsVs
[4] Eduardo Chaves. Livro: Mensageiros dos Deuses.
[5] Gigantes Deitados no Rio de Janeiro. Shirley Massapust, 2017 (Edição Virtual).
[6] O Gigante Deitado. Loryel Rocha, 2015. Instituto Mukhara, ebook. 

Comentários

  1. Muito interessante, muitas vezes me passou pela cabeça algo do gênero ao olhar as formações montanhosas do Rio, e para encantarem tanta gente com certeza há uma grande concentração energética ali.

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  2. Como sempre fantástico! Nunca tinha imaginado!

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  3. Como sempre fantástico! Nunca tinha imaginado!

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  4. Como sempre fantástico! Nunca tinha imaginado!

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  5. Gratidão Erika pela escrita, por compartilhar nossa grandeza... Vamos unir esse gigante, vamos ser um novamente...de mãos dadas somos um gigante de amor🌹👏🙋🏽‍♂️

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  6. Sou paraense, como a autora do texto, moro no Rio de Janeiro desde 1958, e não canso de admirar o Gigante Adormecido e outras belezas dessa região. Parabéns Erika, pelo excelente trabalho.

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