A ENIGMÁTICA SERRA DO RONCADOR E O PARQUE DOS ETS
Quem está acompanhando as publicações aqui do blog
já deve ter percebido que diversos sítios naturais sagrados estão relacionados
a ocorrência de fenômenos ufológicos.
Avistamento dos chamados OVNIS - objetos
voadores não identificados, contato com seres extraterrestres e relatos de abduções
- desaparecimento de pessoas capturadas por naves alienígenas - são assuntos
que há tempos fascinam e amedrontam pessoas no mundo todo.
Além de alimentar a curiosidade em livros e filmes de ficção
científica e outras formas de expressão, o
aumento dos registros de ocorrências inexplicadas nos céus também tem instigado inúmeras pesquisas. São muitas as pessoas que hoje
se dedicam a estudar o assunto e viajar em busca de presenciar algum
fato insólito.
Quer se acredite na veracidade das histórias ou as considere meramente
como fruto da imaginação humana, o fato é que diversos lugares ao redor do
planeta vêm se tornando famosos pelas supostas aparições de seres de outros
mundos.
E o chamado
“turismo ufológico” ou “ufoturismo” é cada vez mais difundido.
Os especialistas no assunto apontam que aspectos
como a presença de cristais e determinados minerais de grande magnetismo no
solo e a localização em pontos de passagem dos trópicos e meridianos afetam a
qualidade da energia que emana de um local, sendo fatores que propiciam a
concentração desses fenômenos.
No Brasil, parece que os eventos ufológicos têm uma
certa predileção pelas paisagens mais belas do nosso território.
De norte a sul
do país encontramos lugares como as chapadas dos Veadeiros/GO, dos Guimarães/MT
e Diamantina/BA, São Thomé das Letras/MG e Caçapava/RS, envoltos em intrigantes
narrativas que associam cenários de grande beleza e natureza preservada com
mistérios e eventos desse tipo [1].
A serra mais misteriosa do país
Mas é no Brasil Central que se localiza a formação
que se destaca como uma das mais enigmáticas do mundo - a Serra do Roncador.
Ela consiste em uma cadeia montanhosa que se
estende por cerca de 800 km desde Barra do Garças, no Mato Grosso até as
proximidades da Serra do Cachimbo, no Pará.
Seu relevo acidentado chega a atingir 700 metros de
altitude em alguns pontos e se ergue como divisor de águas dos rios Araguaia e
Xingu, em uma zona de transição da Floresta Amazônica com o Cerrado.
Recebe esse nome pela característica peculiar de
emanar sons semelhantes a um ronco forte quando o vento passa pelos paredões
rochosos verticais.
O som meio fantasmagórico ecoa pela paisagem causando espanto e medo,
contribuindo para o clima de mistério que emana da região.
Além disso, entre cânions, cavernas, rios,
lagos e cachoeiras que conformam paisagens naturais de tirar o fôlego e
inúmeros sítios arqueológicos, essa formação singular guarda muitos segredos.
Um chakra da Terra
A Serra do Roncador é considerada um chakra planetário
e é mundialmente conhecida
como um santuário místico e metafísico.
Diversas comunidades esotéricas estão instaladas
nos seus arredores, formadas a partir de grupos atraídos pela presença de campos magnéticos especiais.
Ela é relacionada ao mítico caminho do
Paralelo 15 graus
sul - uma linha imaginária que passa por uma série de lugares considerados sagrados. E também ao Templo de
Ibez – uma espécie de monastério situado no plano etéreo.
Diz-se que lá existem portais mágicos que são abertos quando determinados alinhamentos astrológicos
acontecem, dando acesso a cidades
intraterrenas como Agartha, Shamballah e Paititi.
Estas, por sua vez, seriam habitadas por seres com um alto
grau de desenvolvimento mental, tecnológico e espiritual, que sobrevivem
graças à existência de um sol interior que ilumina o centro da Terra.
Seus habitantes seriam descendentes de sobreviventes do antigo
continente perdido de Atlântida e do Império Inca, civilizações avançadas que previram grandes
catástrofes, cujas lendas contam que alguns de seus sacerdotes se refugiaram
em lugares específicos do planeta.
De acordo com essas teorias, existem
inúmeros túneis que se abrem para a superfície terrestre, sendo o mais famoso
deles situado na Serra do Roncador [2].
O verdadeiro Indiana Jones
Alguns deles, sem nunca mais voltar...
O mais famoso foi o explorador inglês Percy Harrison Fawcett, um coronel da Real Artilharia
Britânica que veio para o Brasil inspirado por uma visão
espiritualista para empreender uma incansável procura por uma civilização
intraterrestre que ele estava convicto de existir.
Ele possuía uma estatueta de
pedra coberta por inscrições enigmáticas que acreditava ser oriunda dessa
cidade perdida.
Conta-se que Fawcett examinou uma carta escrita por
bandeirantes ao vice-rei em 1754 que descrevia a descoberta de uma cidade em
ruínas na região, com uma grande estátua de pedra negra, enormes arcos construídos
e sinais de possíveis riquezas para mineração, além de tesouros guardados por perigosos
índios de pele clara, que não aceitavam contato.
Se surpreendeu ao
identificar, entre os símbolos desenhados pelos bandeirantes, alguns idênticos
aos de sua estatueta.
Movido pelo objetivo de estabelecer contato com tal
civilização, o coronel embrenhou-se inicialmente nas matas da Bahia e chegou ao
Mato Grosso em meados de 1919, seguindo pistas e vestígios que o levaram até a
Serra do Roncador.
E desapareceu misteriosamente, em 1925, sem deixar rastros.
Uns dizem que
ele foi assassinado pelos índios, enquanto outros acreditam que ele encontrou a
tal civilização e de lá não mais voltou.
Registros manuscritos da sua expedição encontram-se guardados na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.
E sua saga é contada em diversos
livros – como os do autor Hermes Leal - e filmes como Z: A Cidade Perdida/
The Lost City (de 2016).
Essa não foi a primeira das grandes aventuras do Coronel Fawcett,
que já era mundialmente admirado por uma vida dedicada a explorações na Ásia e
outros países da América do Sul.
Suas histórias no Brasil Central não
instigaram apenas escritores e cineastas, motivaram também dezenas de
exploradores a se embrenhar na região nas décadas seguintes.
O jornal inglês The
Times chegou a oferecer um prêmio a quem conseguisse encontrar evidências
sobre o que aconteceu com o explorador inglês.
Muitos dos que tentaram seguir
seus passos morreram vitimados por acidentes, picadas de cobra ou nas mãos de
índios não contentes com a presença de estranhos a vasculhar seus territórios.
O sobrinho-neto do coronel, Timothy Fawcett, esteve duas
vezes na Serra do Roncador rastreando os caminhos de Fawcett a partir dos
relatos que ele mandava em cartas para sua esposa.
Timothy afirmava que os
relatos oficiais sobre o caso eram diferentes daqueles contidos nas cartas, e
que Fawcett teria feito isso para despistar aqueles que poderiam tentar roubar
os créditos das descobertas que ele estava prestes a revelar.
Ao final de sua
pesquisa, Timothy afirmava que o último vestígio do tio-avô seria na Gruta
Seca, um dos lugares sagrados da região do Roncador.
Quem também andou pela região atrás dessas
histórias foi o jornalista Antônio Callado, que esteve na região do Xingu em
1952, em uma viagem organizada pelos Diários Associados, de Assis
Chateaubriand.
Com a ajuda do sertanista Orlando Villas Boas e dos índios Calapalo,
ele chegou ao local onde presumivelmente se encontrava a cova com os ossos do
coronel desaparecido.
Seu livro Esqueleto na Lagoa Verde, lançado em
1953, continua ainda hoje sendo um dos mais fascinantes relatos jornalísticos
já produzidos no Brasil.
Essa experiência também lhe serviu de inspiração para
o romance Quarup, publicado em 1967.
Ao reconstituir os passos do
explorador britânico, e de outros que procuraram decifrar o sentido de sua
obsessão, Callado produziu uma reportagem incomum sobre o sonho de um vitoriano
nos trópicos, sobre o seu encontro com os índios e sobre um país que ainda se
estava por descobrir.
Lugares sagrados guardados pelos povos indígenas
Na atualidade, os mistérios da Serra do Roncador são
guardados pelos índios Xavante e Bororo que vivem na região e lá possuem vários
lugares sagrados, alguns secretos e outros nem tanto.
Dentre eles está a Lagoa
Encantada, um lago profundo de águas cristalinas e tom azulado, com total
ausência de vida. Diz-se que sua água também não é consumida por nenhum animal.
Localizada dentro do território indígena Xavante Parabubure
(nas proximidades da Aldeia São Domingos, município de Campinápolis), conta-se
que os índios não mergulham nela com receio de serem sugados por alguma força
invisível e não mais voltarem.
Isso teria acontecido com algumas mulheres da
aldeia há décadas e essa se tornou uma história contada de geração para geração.
Segundo os
anciões, essa lagoa e uma caverna encontrada nas suas imediações seriam entradas
da “morada dos deuses”, onde luzes estranhas mergulham e depois saem da água em
direção aos céus [3].
Parte dessa história está registrada no poema O Encanto da Lagoa,
escrito em 2010 por um menino indígena de apenas 12 anos.
Adolfo Si Ruipi
Simisuté, foi finalista da Olimpíada de Língua Portuguesa Escrevendo o Futuro. Segundo sua poesia, “a lagoa misteriosa
é uma riqueza do Povo Xavante, impossível de não se encantar” [4].
Entre os índios são comuns também os relatos de contatos com
criaturas não humanas ou extraterrestres, que eles denominam “seres das
estrelas”.
Tanto os Xavante como os Bororo – grupo dominante na vasta extensão
do município de Barra do Garças - têm em sua rica mitologia lendas relacionadas
a seres semelhantes aos humanos, mas com seis dedos nas mãos, que teriam vivido
na região.
Registros encontrados em algumas cavernas reforçam
essas teorias, como na Gruta dos Pezinhos, onde podem ser contempladas
pegadas animais e humanas petrificadas há mais de 10 mil anos, tanto nas
paredes quanto no teto, com três, quatro e seis dedos e nenhum registro de pés
com cinco dedos.
No mínimo misterioso, não? Chama a atenção de algumas pessoas
que a visitação nesse local seja controlada pela Aeronáutica, ao invés de uma
agência de proteção ambiental, o que gera desconfianças no meio dos ufólogos de
que há mais segredos ali guardados do que o revelado.
No município de Barra do Garças, considerado porta de entrada
para a Serra do Roncador. Também se fala de uma misteriosa comunidade indígena
que guardaria ferozmente os segredos da serra.
Os chamados de “índios morcegos”
viveriam em cavernas e sairiam apenas à noite para a floresta, sem manter
contato com os chamados “moradores de baixo” [5].
Uma antiga carta escrita pelo explorador e naturalista
norte-americano Carl Huni fala de uma caverna cuja entrada seria guardada por esses
índios.
De pele escura, pequeno porte, grande força física e um olfato tão
desenvolvido quanto os melhores cães de caça, eles
habitariam, segundo o explorador, uma cidade subterrânea, autossuficiente e com uma considerável
população.
De onde esse naturalista - que gozava de grande reputação na comunidade
científica de sua época - tirou essas informações, segue sendo um
mistério.
De qualquer forma, ainda na atualidade não são poucos os
moradores da região que têm histórias estranhas para contar, de luzes que
brilham e se movimentam em meio à escuridão nos céus da cidade e seus morros.
O parque dos ETs
No Parque Estadual da Serra Azul, contíguo à Serra do
Roncador, por exemplo, além das trilhas, cachoeiras, mirantes e cerrado
preservado nos seus 11 mil hectares, chama a atenção uma obra curiosa, um
aeroporto para discos voadores, o famoso “discoporto” de Barra do Garças.
Logo
na entrada do parque um boneco
verde extraterrestre dá as boas-vindas aos visitantes terrestres.
Mais ao
fundo, um painel criado
pelo artista plástico Genito Ribeiro reproduz uma paisagem espacial e o corpo de um ET no
qual há um espaço para as pessoas colocarem a cabeça e serem fotografadas.
E um disco voador feito com duas antenas
parabólicas serve de
brinquedo para as crianças.
Projeto do político, escritor e historiador Valdon Varjão, o discoporto foi criado primeiro
por decreto na Câmara do Município em 1995, e instalado em 1997.
Toda a estrutura foi feita com
materiais recicláveis, sucatas, doações de moradores da região e do próprio
Varjão, sem uso de recursos públicos.
Embora ressentido com as gozações e rotulações que enfrentou (como
louco, lunático e até coisas mais pesadas), Varjão, falecido em 2008 sem ter
nunca visto um OVNI, foi mesmo um visionário.
Chamou a atenção da imprensa de
todo o país e do exterior ao mostrar a rica casuística que envolve a região e
alcançou seu objetivo, que não era atrair discos voadores para Barra do Garças,
mas sim turistas, e aproveitar o potencial que a cidade tinha nessa área.
Seu
discoporto chegou a receber até 400 visitantes/dia na alta temporada antes de
ser fechado, em agosto de 2014, quando um incêndio queimou cerca de 80% da
cobertura vegetal do parque [6].
E a iniciativa, considerada por muitos como
sandice, acabou por colocar tornar Barra do Garças internacionalmente
conhecida.
Desde então, o poder público continua investindo no
turismo ufológico, recebe e promove eventos sobre a temática. E comemora até o “Dia
do ET”, no segundo domingo de julho, data instituída em 2015.
Para quem ainda acha que essas ideias parecem coisa de bicho-grilo ou mera estratégia de marketing, cabe lembrar, como explica Ataíde Ferreira, psicólogo presidente da Associação
Mato-grossense de Pesquisas Ufológicas e Psíquicas (Ampup), que o trabalho da ufologia moderna não se baseia em contos fantasiosos,
mas em fatos e registros de fenômenos para os quais os especialistas buscam
respostas [7].
Pois quer se acredite ou não na existência de seres intra ou extraterrestres,
fatos são fatos e a incidência de objetos voadores não identificados no espaço aéreo do Brasil
é atestada inclusive pela Força Aérea Brasileira e pelo Ministério da Justiça, que mantém
no arquivo nacional registros de mais de 700 aparições de OVNIs no país [8].
Que eles existem, existem!
O que eles são? Essa é a pergunta que ainda abre margem para especulações e interpretações, a depender das crenças e experiências de cada um.
Lugares
como a Serra do Roncador nos convidam a rever as nossas crenças, a vislumbrar uma realidade maior e a penetrar no mundus imaginalis -
aquele espaço visionário e intermediário entre a dimensão sensível e visível e
o inefável transcendente.
E a recuperar algumas capacidades fundamentais que nos tornam humanos - a de nos assombrarmos e nos maravilharmos.
A todos os visionários, que não sucumbem ao medo de apresentar ideias novas pautadas em belos ideais, e aos exploradores de novos horizontes exteriores e interiores, dedico.
Érika Fernandes Pinto
Brasília, 27/02/2020
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Fontes
[2] Silva-Neto, Ataíde, 2011. Os
mistérios da Serra do Roncador, em Mato Grasso. Portal UFO, Edição 61. https://ufo.com.br/artigos/os-misterios-da-serra-do-roncador-em-mato-grosso.html
[3] Elias Januário. O mito da Lagoa
Encantada. https://iberoamericasocial.com/a-lagoa-encantada-dos-xavante/
Portal UFO, Edição 61. https://ufo.com.br/artigos/os-misterios-da-serra-do-roncador-em-mato-grosso.html
Muito bom artigo Erika, parabéns! Há tempos venho nutrindo a ideia de conhecer este lugar enigmático.
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